Se você está lendo este post com certeza você é um amante de vinho e se você acompanha nosso blog, você sabe sobre a história do vinho. Mas agora vamos afunilar um pouco e entender mais como esta bebida maravilhosa veio parar em terras tupiniquins.

Ao chegar no Brasil, os portugueses já tinham muito conhecimento com a vinicultura. Como já trabalhavam com vinho desde 2000 a.C, chegaram aqui já com mais de 60 mil litros de vinho. A bebida era utilizada cozinhar, esterilizar alimentos e para hidratar. Também para a Eucaristia nos navios: não esqueçamos a estreita ligação entre a Coroa e a Igreja Católica naquela época.

Porém, quando chegaram aqui, o vinho já não se encontrava no seu melhor estado, afinal, tinha passado vários meses num ambiente úmido a bordo do navio, atingido por ondas e tempestades, e não tinha condições de armazenamento suficientes. Tanto que, os primeiros que brindaram nas terras brasileiras, cuspiram o vinho logo em seguida!

Os nativos ofereceram aos portugueses o Cauim, um fermentado obtido da mandioca. Sendo assim, o Cauim é o primeiro vinho dessa nova terra.

 O pai do vinho Brasileiro: Brás Cubas

Você já ouviu falar este nome, mas este Brás Cubas não tem ligação alguma com o personagem de Machado de Assis.

Brás Cubas nasceu em Porto e participou da expedição de Martim Afonso de Souza de exploração, daqui que se tornaria a Capitania de São Vicente, em 1536. Ele funda a vila de Santos e logo manda plantar, nas encostas da Serra do Mar, mudas de parreiras trazidas de Portugal, mas elas não se adaptaram ao clima tropical, mas ele continuou tentando plantar as primeiras vinhas do país, até que conseguiu mais adentro do continente.

Além disso, ele contribuiu para que a Cåmara Municipal de São Paulo aprovasse a leis de padronização de qualidade e valores do vinho.

Maurício de Nassau: o Segundo vinicultor do Brasil

Durante a invasão holandesa, Maurício de Nassau ficou encarregado da Capitania de Recife e determinado a fazer as coisas darem certo. E conseguiu!

 Logo na primeira tentativa, o holandês conseguiu introduzir as videiras na primeira tentativa.

O sucesso foi tão grande que Nassau pediu para incluir 3 cachos de uva no brasão da capitania.

 Porém, com pragas, enchentes e queda do preço do açúcar, além da volta de Nassau para a Holanda, enfraqueceu a prosperidade de Recife. O golpe final foi a notícia de ouro em Minas Gerais e Goiás que levou a emigração da população.

 O retorno do vinho à proibição.

 Diminuída a febre da busca pelo ouro, a estabilidade voltou e logo a região começou a prosperar, também impulsionada pela mineração, claro.

 Não demorou para que pequenas indústrias começassem a se estabelecer no Brasil, transformando a matéria-prima colhida produtos para serem consumidos internamente e exportados, gerando receita para a colônia, mas isso acabou gerando uma concorrência nem um pouco bem-vinda com os produtos portugueses.

Resultado: Dona Maria I emitiu uma lei proibindo a atividade de manufatura no Brasil, sendo proibido transformar as uvas em vinho.

Porém, com a vinda da Família Real para o Brasil, vieram também mão de obra qualificada, além de uma demanda maior para o vinho. Assim os portos foram reabertos e a manufatura foi liberada no país.

O retorno da Família Real e imigração italiana

Com a derrota de Napoleão na guerra, a Família Real pôde retornar para Portugal, mas não esperavam que D. Pedro declararia a Independência do Brasil e que um de seus primeiros atos foi liberar a entrada de imigrantes para ocuparem o Sul do país e trazendo pessoas de países com uma cultura vinícola maior se instalarem na região que, atualmente, é a maior produtora de vinhos.

Com diversas famílias, principalmente de origem italiana, estabelecidas na Serra Gaúcha, trazendo consigo a cultura do vinho, enraizada no território italiano desde a época do Império Romano, e fundando assim boa parte das vinícolas nacionais que seguem até hoje.

 No começo, assim como as videiras portuguesa, as trazidas pelos italianos, não se adaptaram ao nosso clima, mesmo com o friozinho típico do sul. Para dar certo, foi preciso aliar o conhecimento dos imigrantes a uma uva trazida dos EUA, mais adaptada ao calor tropical: a uva Isabel.

 As cooperativas – Da ascensão à queda

Com o sucesso da uva Isabel, a Serra Gaúcha foi se tornando o grande centro de cultivo de uvas viníferas e produção de vinho no Brasil.

Já em 1912, numa ação do governo federal com os vinicultores, foi fundada a Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul. Para o governo, as cooperativas serviam para gerenciar e taxar os impostos sobre a produção e comercialização das uvas e da bebida. Já para os produtores, conseguiam preços mais justos.

Mas no fim das contas acabaram não dando certo devido diversas crises no governo do Marechal Hermes da Fonseca.

 A revolução do Vinho!

Mesmo com a queda das cooperativas, os produtores não desistiram e buscaram alavancar o conhecimento para produção do vinho.

A Escola de Engenharia de Porto Alegre contratou diversos professores italianos especialistas em vinicultura para, junto ao engenheiro e enólogo Celeste Globbato, revolucionar nossas vinícolas.

Guiados por Globatto, os produtores começaram a se preocupar com a qualidade do vinho produzido nas nossas terras.

Com o começo da seleção das uvas prioritariamente vitiviníferas, começamos a plantar espécies como Merlot, Cabernet, Chardonnay, etc.)

Essa padronização elevou tanto a qualidade dos vinhos que, em 1927, começaram a falsificar os vinhos no exterior, levando os produtores a se unirem na criação do Sindicato Vinícola do Rio Grande do Sul.

Surgiu também a Sociedade Vinícola Riograndense, cujos resultados pra lá de positivos logo incentivaram outros produtores a retornar com as cooperativas, inclusive, muitas existem até hoje!

1930 – 1990: Evolução e qualidade são a chave!

Em 1930 iniciou-se uma constante evolução em termos técnicos na produção de vinhos.

Além das pesquisas realizadas na Estação Experimental de Viticultura e Enologia, orientados professor Celeste Globbato, outros estudiosos começaram a procurar entender as peculiaridades do clima brasileiro e como ele afetava as videiras.

Uma grande referência da época, por exemplo, é o professor Julio Seabra Inglez de Sousa, de Sao Paulo, que realizava cruzamentos controlados para encontrar variedades de videiras mais resistentes ao nosso clima.

Nos anos seguintes, a população já começava a se familiarizar com as castas de uvas internacionais, como Merlot, Riesling e Cabernet. O Marketing começou a se tornar uma preocupação entre os nossos produtores. Houve um aumento significativo no consumo de vinho no país, seguindo a tendência global.

Ao mesmo tempo, o Brasil começou a chamar a atenção de grandes multinacionais do vinho e várias delas se estabeleceram por aqui, seja inaugurando suas próprias plantações ou comprando aquelas de pequenos produtores locais.

Por sorte, face a essa “invasão” dos gigantes mundiais do vinho, os vinicultores brasileiros não deram bobeira, e, em vez de se deixarem dominar, aproveitaram as lições das multinacionais, fortalecendo-se para se consolidar.

Nos anos 1980, começam a surgir as primeiras confrarias do vinho, o consumo de vinho fino começou a crescer, mesmo que devagar, junto com uma população de consumidores informados e exigentes.

Nos anos seguintes, o Programa Real promoveu a importação de vinhos de todo o mundo, permitindo aos brasileiros conhecer os mais diversos rótulos das principais regiões vinícolas do planeta.

Como estamos atualmente?

No início do século 21, as perspectivas dos vinhos do Brasil foram boas: a safra de 1999 foi histórica e é considerada um dos melhores vinhos do Brasil até agora. Nos anos 2000, o país continuou o desenvolvimento com tecnologia cada vez mais preocupada com a qualidade dos vinhos nacionais. Em 2002, a primeira vinícola brasileira localizada na região do Vale dos Vinhedos, obteve o direito ao selo de identificação de origem geográfica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), primeiro passo rumo à cobiçada denominação de origem, além disso, devido às exigências de vedação, pode-se garantir que as garrafas ali produzidas sejam de melhor qualidade.

Outra grande mudança tem a ver com os hábitos de consumo onde com a facilidade de acesso a informação, os consumidores se tornaram mais exigentes e começaram a optar por vinhos de maior qualidade e não mais uvas comuns e híbridos.

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